A certeza da dúvida

Ter respostas a todas as perguntas é um alerta de arrogância?
Ter dúvidas, ou estar sempre em cima do muro é sinal de despreparo? Inconscistência?
Existe verdade absoluta? Existe um ponto final? E começo?
A existência, por si só, é um emaranhado de perguntas. Nascemos perguntado? Com certeza, crescemos indagando. E se existe a certeza da pergunta, existe certeza na resposta?
É por essas e outras tantas, que prefiro acreditar que a verdade é relativamente uma criação humana, com o intuito de suportar o vazio das respostas perguntas - aquelas sem fim, sem reposta.
Viver sem respostas é aterrorizante, não acha? Existe o momento do "eu acho" e o momento do "será?";
Assim como existe o "se" e o "é", sempre acompanhado do "talvez" e só "porque".
Quem diz ter certeza vive em completa escuridão. Se é que alguém tem certeza de tudo.
E viver em meio a tanta dúvida é se ver diante de um abismo sem fim, sem escalas até seu final, se é que há final.
E quando vejo uma criança, curiosa e pensante, reflito na maravilha de descobrir e na perda de encontrar. Encontrar respostas seja lá de onde vieram. Melhor é mesmo imaginar, criar, inventar, mudar de ideia...será?
Depois que o fruto foi comido, o que nos resta é pensar. Foi comido? Por quem? Existia mesmo uma árvore? Quem contou, criou ou escutou, será que presenciou?
Ser macaco deve ser mais fácil. Seria mesmo mais evoluído pensar na evolução?
Quantos caminhos e respostas, estórias de histórias, algumas um tanto quanto bem contadas que nos fazem viajar no mundo da palavra, da criação e da capacidade de criar.
 E se o mundo for uma grande indagação, sem respostas, nem certezas, talvez não haja, portanto, nem fim, nem começo, nem coisa, nem nada. Se não há, o que sou eu, além desta, feita de sonhos e ideias, e pesares? Fruto comido? Fruto de uma imaginação corrompida pelo pecado? Fruto de um idealismo de perfeição que teve algumas perdas no meio do caminho?
As vezes sinto como se o amor, o ser, o outro fosse algo tão intangível, que não caberia na assimilação da palavra real, realidade. A falta do outro não é confortada pela presença, mas é presente de maneira tão intensa na falta...que faz a falta de ser mais real que a presença de...de tudo.
Mas é o percurso de querer que me faz dar sentido ao possível ter. E houve um momento, ou alguns poucos em que enxerguei de fato a felicidade e a senti no presente. Nem o futuro idealizado, nem no passado fantasiado, melhorado, alimentado pela saudade.
E assim vive-se, saboreando na dúvida o amargo tempero que revela a possibilidade. Nem de todo amargo, pois desta, frutos saborosos nos remetem a fadada mania de comparar em dicotomia dando argumento e sentido a vida.
Refletindo na morte inesperada e instantânea, ou futura e "certa", posso dizer que o que importa não é a dúvida, nem a certeza, nem a razão...Meu ponto de equilíbrio, o que faz minha vida valer a pena é tão íntimo e pessoal que não me permite compartilhar de certeza e fórmulas que sirvam de consolo, nem de parâmetro a ninguém. Há uma história pessoal e intransferível, tão individual quanto o próprio direito de escolha. Se é que temos escolha...Escolha é uma escolha, mesmo! Experiências passadas não valem para ninguém que não as queira. E o acerto de outros não assegura a ninguém a convicção da conquista, da completude.

Talvez nosso mal seja perguntar demais. Ou talvez seja não fazê-lo. Talvez sejam ambos, dependendo da circunstância.


Só não espere respostas, pois você não vai encontra-las em ninguém, nem mesmo em você.
A não ser que esteja cego demais para perceber...
Ou criativo demais para conceber...

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