"Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,
Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.

Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que segue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo : "Fui eu ?"
Deus sabe, porque o escreveu."

Fernando Pessoa
Ontem passei parte da noite pensando em várias coisas interessantes que poderia escrever aqui.
Pensei comigo: se levantar agora perco o fio da meada, se tivesse um gravador para escrever tudo isso, talvez me perdesse com as palavras faladas. Parece que pensar é mais fácil que tentar traduzir tudo de uma maneira lógica.
Talvez estivesse só sonhando e quando sonhamos tudo que é estranho e ridículo faz algum sentido, talvez...
Nem me lembro mais do que se tratava, só sei que parecia muito interessante que me fez pensar em escrever e reler depois.
Escrever é um dom e às vezes uma necessidade. Talvez...