Pare de dar desculpas...

A partir de hoje faça um compromisso com a verdade. Pare de dar desculpas para o fracasso. É a falta de tempo, de dinheiro, de disposição...Pare de adiar o que deve ser mudado, não deixe a sua oportunidade de ser feliz passar por você com um pássaro voando alto demais para que possa alcançar.

Foi isso que ela ouviu aquela manhã. E disposta a seguir aquele conselho e promessa de uma vida melhor começou pela sua determinação de perder os quilinhos que a tempos a incomodava. Fez uma salada de frutas, comeu com prazer e com a certeza de estar fazendo a coisa certa. Que bom, pensou ela, sentir que estou sendo mais forte que a gula, tendo controle do meu corpo e mente. Próximo passo, passar mais tempo com quem ama. Deixou de lado a TV e o computador e passou a dedicar uma hora diária do seu tempo a família. Brincava como criança, se divertia com as estórias do marido, se interessava pelos planos e acontecimentos do dia deles.Começou a ver como a felicidade dos seus queridos era também parte da sua própria felicidade. Decidiu ser mais flexível, mais aberta a outras pessoas, opiniões, circunstâncias. Então, ao invés de dizer não aos convites, e por total falta de jeito, ignorar uma conversa com estranhos. Ao invés de se fechar na sua própria ideia sobre o mundo, decidiu se aventurar a ver o mundo com os olhos dos outros. Descobriu novas formas, nem certas nem erradas, apenas outras diversas maneiras de ver os outros. Começou a se exercitar, escolheu um esporte coletivo, uma boa oportunidade de se relacionar com outros. Viu cores novas e antigas, mas viu além de si. Isso a fez mais feliz, mais todo, menos parte. Leu, leu, leu. Viu como o intertexto é necessário. Perdeu o medo de repetir, de refletir, de argumentar. Se olhou no espelho, viu os anos passarem, mas de uma maneira diferente, refletiu na necessidade de ser mais que ter. O ser permanece. Se sentiu mais consciente de si, do tempo, da vida. lembrou da infância, da adolescencia, da juventude. O tempo passa tão rápido e tão devagar. Tinha tanta coisa pra viver, tantos planos inacabados, muitos inacabados, mas queria mais. Então pegou papel e caneta e fez uma lista de coisas que valeria a pena fazer por ela, pelos outros. Será que seus queridos compreendiam a imensidão do seu amor por eles. Resolver escrever-lhes o quanto os amava, o quão importante era sua vida porque eles faziam parte dela.
Na manhã seguinte, 12 de Julho de 1987, ela parou de respirar. Deixou sonhos no papel, saudade em alguns corações e a certeza de que fez pouco, fez muito pouco, comparado ao que poderia ter sido sua vida - tediosa vida classe média.

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