Eclipse

Hoje eu não quero saber dessa tristeza,
Nada mais importa.
Essa melancolia, essa pessoa triste que me assola,
E as vezes me sinto cinza. Não importa.
Dizer palavras lindas, mas para falar de tristeza?

E a criança que um dia viveu, quem era?
Me diziam que era feliz, sonhadora...
E os dias vem e os ventos levam pra longe, pra onde, não sei.
Não quero ser parte de algo que foi.
Não fui, continuo...

E não quero falar de tristeza.
Mas assim escrevendo, ela passa, passa...

Tem dias que o som das aves me encanta,
Em outros me irrita, como um motor dentro da cabeça.
Assim como meus medos que nem sei quantos são.


Ela olhou pra lua e o sol brilhou,
Sol e a lua se fundem,
Em dias
As vezes frios, as vezes quentes,
Não importa, apenas vive.
A felicidade passa,
Antes disso,
Sente!

Saudade é bom,
Mas sentimento sentido, É.
Então,
Pare de planejar.
Pare de juntar.
Pare prever.
E oro:
Volta sol, volta lua.

E se puder parar e respira fundo,
Sente!
...
Isso é Vida, é Hoje, e é o que importa.

E por falar em sol..

No dia seguinte uma nuvem veio do nada e encobriu o sol.
Ele sorriu pra ela e entendeu tudo!

O sol sorriu



O sol sorriu de tristeza,
Não percebeu a beleza do céu azul.
Mas quando veio a nuvarada e encobriu os olhos dela,
O sol percebeu o que tinha e chorou pelo que nunca teve.

Quando veio o verão o sol chorou de alegria,
Seu choro espantou as bolinhas de algodão doce.
Então ele percebeu o azul,
E a magia de ver além dos olhos.
Ver a essência é perceber agora,
Aquilo que os olhos só entenderão no futuro.

Aí o sol chorou de tristeza,
Porque o tempo passado não é sorriso,
É pesar e saudade.
Ai que saudade!

Então percebeu o que tinha,
E tomado de uma repentina lucidez,
Gargalhou de alegria.

O arco-íris sorriu de volta.
E a primavera nasceu mais uma vez.

Cegueira

Há momentos em que acordamos para nós mesmos, como um insight ou algo parecido, e nos percebemos como realmente somos.
Momentos infelizmente raros. Para alguns isso nunca acontece. Mas é triste notar que nossas atitudes deveriam ser diferentes, que nossos julgamentos estão equivocados, que aquilo que nos ocupamos não tem tanto valor quanto deveria. Aí temos em tese duas alternativas: voltar atrás e refazer nosso caminho (se ainda for possível) ou continuar onde estamos e fingir que está tudo bem. Mas sinceramente, não sei como alguém pode viver sabendo que está indo na direção errada.
Enfim, tive algumas poucas oportunidades de cair na real, e quando dá aquele - Putz, que merda eu to fazendo! a vontade que dá é de enfiar a cabeça no travesseiro e se esconder do mundo. Como a gente sai da realidade e age sem um pingo de razão, comprometimento, respeito pelos outros?  E depois que foi feito resta pedir desculpas e tentar consertar o que se fez, quem ofendemos, o que perdemos pelo caminho. Alguns exemplos disso são arrogância, quando nos achamos mais que o resto. Quanta besteira! Ninguém é tão ruim, nem tão bom...Outra coisa é achar que seus motivos são melhores, portanto, devem ser seguidos. Ou o tempo que gastamos em coisas cotidianas e não damos a devida atenção a quem realmente merece. Ou quando equivocados tiramos nossas conclusões sobre os outros sem dar a eles a chance de provar o contrário. O preconceito é triste e devastador. As vezes vejo pessoas agindo assim, sem consideração por nada além de si e de suas convicções, sinto pena, e espero que consigam ver além do próprio umbigo. Que acordem antes que seja tarde...Mas também vejo outros com atitudes tão nobres, com uma capacidade de doar e ver os outros com respeito, carinho e honestidade..isso me faz acreditar no ser humano, que ainda existem pessoas boas.
Recebi um email de um gari. Não sei se é verdade ou montagem, mas o importante é a estória. Um jovem que tem mil sonhos, e que hoje é um gari. Ele procura dar seu melhor, fazer tudo com otimismo e perfeição. Limpar o chão com perfeição?? Não! muito mais que isso. Nosso trabalho vai além de nossas funções. Saber lidar com os outros (e cá pra nós, há pessoas de todos os tipos e educação), saber lidar com nós mesmos, saber lidar com aquilo que é a vida, um constante resolver problemas, encontrar saídas, lidar com o inesperado. O cara deu uma lição de otimismo, de humildade e de determinação, e porque não? O  negócio não é ser gari, é uma profissão como qualquer outra. Mas o que conta é que ele esta ali e vê amplamente, se ve como parte essencial e não com lamentação, se achando inferior, menor. A mediocridade, e acomente com muita facilidade pessoas que tem a alma pequena.Algumas dizem que pra ser feliz tem que ser rico, não sabendo que assim restringem essa oportunidade de "felicidade" a maior parte da população mundial. É acreditar que ter dinheiro é ser feliz, mas infelicidade ter esse pensamento. Mas alguns sonham com isso - ter, pra então ser feliz. Alguns passam a vida se lamentando e morrem assim. Outros, depois da conquista se sentem mais vazios que antes. Eu sinho com um mundo que consiga ver mais além, ver a si mesmos de maneira ampla, verdadeira, sem máscara nem maquiagem, sem disfarce. E por falar em olhar com tanta simplicidade, me lembrei do olhar de criança, voltar a ser criança, já nos ensinava alguém muito sábio e consciente. Quero voltar a ser criança, voltar a pensar como criança, a sonhar como criança, a entender com a simplicidade e a magia da criança. A perdoar com a facilidade e sinceridade da criança, a aprender com a humildade e o interesse da criança, a dormir o sono de uma criança, a viver cada dia sem se preocupar com o futuro como uma criança, a pedir perdão como uma criança, a aceitar ajuda como uma criança, a estar disponível aos outros como uma criança, a se superar como uma criança, a falar de seus medos e sonhos como elas, a insistir e nunca se cansar como elas...
A ver com os olhos de uma criança!
É quando só que nos percebemos, 
Antes de qualquer coisa, 
Parte de nós mesmos.
E do outro.

Colcha de retalhos

O original morreu? Já existiu? E se nasceu, porque morreu? .
Algumas pessoas se acham originais e cegas pela própria ignorância se tornam as mesmos de sempre.
Quem não se lembra de um adolescente, revoltado com o mundo, que por querer ser diferente resolve fazer parte de um grupo mais rebelde, "menos comum"? Sendo assim, as mesmices das patricinhas e dos playboizinhos são pelo menos mais sinceras e assumidas.
O que ainda é original?? A própria ideia de ser original é velha.
O velho não incomoda, mas a obsessão pelo novo me irrita demais, principalmente a estupidez de quem se acha muito autêntico.
O original é pastiche de intertexto. "Its a recollection of old things in annoying and silent Tempest". Repetem os valores, as crenças, os preconceitos, os desejos, a vaidade.
Um ciclo que se repete, em todos os apectos da vida. Pessoal, social, intelectual, moral...
É um vai e vem de mesmisses que fica difícil, a essa altura, prever a próxima moda do verão passado, o próximo hit da década passada...
A guerra dos sexos e do poder. O conflito entre o bem e o mal. O pensamento crítico que se baseia no senso-comum. E onde foi parar a capacidade de criar? Talvez obscurecida por uma era de mediocridade, o medo de arriscar, uma sociedade crítica e sufocante. Não sei bem. O que vejo é muita tecnologia e pouco desenvolvimento. Muita informação e pouca renovação. Os paradigmas nos obrigam a ser assim, iguais.
E nos dizem a todo o momento que somos diferentes.

Num contexto mais amplo de originalidade diria que existe apenas a matéria e o pensamento. Tudo que vem destes dois elementos é repetição. Exagero?
Pode ser, mas não vejo nada que não tenha origem nestes dois momentos. A matéria que se transforma em meios e fins. O pensamento que transforma e é continuamente modificado pelo que por ele deriva e reflete.
Então, a menos que criem uma nova matéria e um novo pensamento, tudo mais é igual, é repetição, é falta de imaginação.
Acho melhor para por aqui com essa antiga mania de perguntar como, porque e pra que...:)

Coward

Coward, a such coward!

Get out of my sight.
You dressed with delight
Of frustation for being alive.


You chose it well,


Farewell!
I will keep trying.
If there's no light on the other side
I'll be bright, aspiring.


Wait paciently inspiring dust.
Deserving each breath
Of your disgusting life.


But don't bother me with empty words.
If satisfaction isn't there,
I am, already.

Those eyes

What eyes!

They keep staring me,
They persuit me
And try to vanish me.
Oh dispear! What dispear!
They haunt me as if they could.
Dammed eyes, your cruelty is already you.
You were once looked in that way,
Now is the time for revenge.
But I am not your accuser.
You try to get rid of your own memories of that vision.
I am not either part of it.

Look inside before look anywhere.
Your eyes have poison in them
Protecting you against anyone,
Anyone, as far as your senses can perceive.

What sad eyes, they touched me.
And I felt your anger, and your emptiness.
You were thirsty.
Look beyond the pain! I said.
That incredible pain.
Find something else, a reason.
But all you can find is nothing else
But fear.
What lonely eyes, they hurted many others.
And I felt anger, your emptiness fulfil me
As much I couldnt see much.
My eyes are drowned,
And even when they are open
All I can see is the emptiness You.

I tried to share
They couldnt understand, they wouldnt.
Then I stopped telling.
Who could?
You touched me with yours and since then I got sick.

How dare you come now and tell me
That you know what you know?
I know your emptiness since the moment I was born,
And even before I could hear you cry.
I used to cry in the same way.
Should I keep your legacy?
Can't I choose mine?
Your words were stronger than your eyes, sometimes.
Your silence-
     Even worse.
I have them all at the same time
Eyes, Words in Silence.

Once upon a time, I dreamed
But now I can't barely breath.
Get away from me,
Get blind, and nothing.
Sometimes nothing is not enough.
And I, I cannot forget that eyes and sound.
They are also what I am.

My eyes, what eyes.
I learned a lesson
When he was born.
When his calm hands touched my arms.
When his eyes released me.


Those eyes, full of love,
What a beautiful eyes.
Untouched, fresh and innocent.
(As when he discovered that he could move his fingers from hands and foot at the same time)
He discovered that he could move forward.


Those eyes.
What eyes!

Um ponto iluminado

Alguns dias me sinto como um ponto iluminado.
Onde as centelhas que me aquecem
Me remetem ao frio e a cegueira.
Tais centelhas me confundem, me guiam,
Me concluem.
Como ater-me aos detalhes, se o que vejo é a imensidão intangível.
Então, me recluso em insignificância,
Me percebo nua e vazia.
Queria ter tempo para tudo,
Mas ainda que vivesse eternamente
Não poderia tamanha magnitude conter.
A luz que me aquece foge num instante,
Mas ela irradia eternamente, por isso nunca me sinto tão ponto.
Sinto me parte de um arranjo de letras com alma.
Ler é aquecer o coração sentindo a complexidade do conhecimento.
Quanto mais, me sinto menos.
E quem sou eu além de um ponto?
Então, contemplo exacerbada a maravilha do conhecimento.
Me deleito nas palavras que quem muito adiante assimilou o conhecimento em vida.
Que leu a vida e a transcreveu em conhecimento.
Delírio, magia e encantamento são as palavras de um sábio leitor.
Quisera eu atar-me a momentos como estes,
E ouvir pacientemente, horas a fio
As brasas que me aquecem e acalmam a alma.
O deleite da inquietude me preenche de desejo e vazio, e quero mais.
De tudo que sei e anseio,
Do que ainda nem sei, mas que recrio em mim,
E nos outros.

Poema “Vozes-mulheres”, de Conceição Evaristo

Hoje tive o prazer imensurável de ouvir este poem na voz da própria Conceição Evaristo. E não há como não se emocionar. Um momento inesquecível, que guardarei com muito carinho.

A voz de minha bisavó ecoou
criança
nos porões do navio.
Ecoou lamentos
de uma infância perdida.
A voz de minha avó
ecoou obediência
aos brancos-donos de tudo.
A voz de minha mãe
ecoou baixinho revolta
No fundo das cozinhas alheias
debaixo das trouxas
roupagens sujas dos brancos
pelo caminho empoeirado
rumo à favela.
A minha voz ainda
ecoa versos perplexos
com rimas de sangue
e
fome
A voz de minha filha
recolhe todas as nossas vozes
recolhe em si
as vozes mudas caladas
engastadas nas gargantas.
A voz de minha filha
Recolhe em si
a fala e o ato.
O ontem – o hoje- o agora.
Na voz de minha filha
se fará ouvir a ressonância
o eco da vida-liberdade.
(Poema “Vozes-mulheres”, de Conceição Evaristo)