Poema “Vozes-mulheres”, de Conceição Evaristo

Hoje tive o prazer imensurável de ouvir este poem na voz da própria Conceição Evaristo. E não há como não se emocionar. Um momento inesquecível, que guardarei com muito carinho.

A voz de minha bisavó ecoou
criança
nos porões do navio.
Ecoou lamentos
de uma infância perdida.
A voz de minha avó
ecoou obediência
aos brancos-donos de tudo.
A voz de minha mãe
ecoou baixinho revolta
No fundo das cozinhas alheias
debaixo das trouxas
roupagens sujas dos brancos
pelo caminho empoeirado
rumo à favela.
A minha voz ainda
ecoa versos perplexos
com rimas de sangue
e
fome
A voz de minha filha
recolhe todas as nossas vozes
recolhe em si
as vozes mudas caladas
engastadas nas gargantas.
A voz de minha filha
Recolhe em si
a fala e o ato.
O ontem – o hoje- o agora.
Na voz de minha filha
se fará ouvir a ressonância
o eco da vida-liberdade.
(Poema “Vozes-mulheres”, de Conceição Evaristo)

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