Memória e Esquecimento: aqui estão dois temas que caminham lado a lado, se completam, se complementam, São elementos fundamentais daquilo que aprendemos – Literatura comparada.
Durante todo o semestre estudamos diversos artistas que através das diversas artes como a literatura, as artes plásticas e o cinema, expressaram sua forma de ler o mundo, fizeram releituras de suas vivências e traduziram ao mundo sua forma de ver aquilo que lhes é tão peculiar. Sua subjetividade transcrita em versos, em canto, em formas. A Literatura comparada é isso, um bocado de mim com outros bocados de tudo que vejo, sinto e traduzo.
Seja na “Eneida” de Virgílio ou na “Divina Comédia” de Dante, passando por Camões, Machado, “Quijote”, Guimarães Rosa, Tarsila, e tantos outros; o que se vê é um constante trabalho da memória e do esquecimento no processo de criação. De uma busca pela essência de tantos autores e obras que ficaram guardados em cada um deles. Ao escrever este texto, humildemente, me comparo também a cada um deles, relembro cada palestra, cada comentário, cada texto lido, e percebo que a transcrição do meu texto é um pastiche de tantos outros, que ao final não sei dizer de quem são ao certo. Um misto de lembranças e esquecimentos, frases que ficaram por muito tempo guardados, que se tornaram parte de uma memória literária de uma estudante de letras que se apaixonou pela literatura ao perceber que a literatura nada mais é do que essência humana transmitida, assimilada, re-elaborada, sentida, digerida.
Grande alegria perceber que os grandes foram um dia pequenos, formados por uma colcha de retalhos chamada “Literatura”. Quão bom seria ter essa noção aos meus 9 anos, quando sonhava em fazer textos que merecessem um: “Continue lendo, continue escrevendo!” ao invés da lembrança de textos incompreendidos que não eram sequer comentados. Quão bom seria se os professores desde a pré-escola criassem em seus alunos o amor pela capacidade de escrever, porque escrever é aprender a se expressar, a unir cada parte da colcha e dar sua voz a temas que estão aí, sendo esquecidos por uns, relembrados por outros, ignorados por tantos.
A literatura comparada é a desestigmatização da literatura inatingível, inacessível. É compreender essa arte como algo tão belo e fundamental como a própria fala. A forma de expressão do ser, a externalização do eu perante o mundo e diante de si.
Leitor, autor e obra são todos elementos fundamentas de uma mesma arte que não existe independente dos elos que a tornam tão especial e infinita: a memória e o esquecimento. Esquecer para inventar, inventar para recriar algo novo, que apesar de tão subjetivo e peculiar é parte de cada um, é tão humano e portanto, tão abrangente.
(...) só pode se esquecer, no sentido corrente, o que pôde se inscrever, porque poderá se apagar. Mas o que não está inscrito (...) isso não se pôde esquecer, não se expões ao esquecimento; isso segue presente “só” como uma afeição que nem sequer se logra qualificar, como um estado de morte na vida do espírito.¹
E isso que “não se pode esquecer” mesmo que fique latente no inconsciente do que cria é o que faz a literatura tão comparável, tão contínua e infindável. Como uma história de vários autores, mas com infinitos finais.
Referências
1. LYOTARD, Jean-Fraçois. Los júdios. Confines. Buenos Aires: La Marca/ UBA, ano 1, n. 1. p 42, 1995. Citação entrada no livro: O Estilo na Contemporaneidade de PERES, Ana Maria Clark, PEIXOTO,OLIVEIRA, Silvana Maria Pessoa de, organizadores. Belo Horizonte: Faculdade Letras UFMG, 2005.
No comments:
Post a Comment